Ei, você que gosta desse tal Legal Design!

1/9/2019

Uma das melhores partes de sair por aí falando sobre um assunto estranho e novo é encontrar pessoas que também se interessam por ele.

Trocar curiosidades, conhecimento e fazer conexões. Falar da experiência do ser humano com serviços jurídicos tem me levado a lugares interessantes. Geografica e virtualmente. Lugares interessantes são habitados por pessoas interessantes, sorte a minha.

Dessas andanças podem nascer longas conversas sobre comunicação humana, códigos de comportamento, respiração consciente e até o melhor design de macarrão. Nunca sei como acabamos falando dessas coisas. Mas desconfio que isso tem a ver com a variedade dos temas que despertam nosso interesse e a dificuldade em sermos especialistas por muito tempo.

Eu nunca me considerei especialista em coisa alguma, o que era perigoso até bem pouco tempo. Sobretudo na advocacia, uma atividade loteada pelas especialidades.

A curiosidade me levou para o design e o interesse tem me mantido nesse caminho. Por que escolhi falar disso? Porque reconheço um certo padrão nos estudantes e profissionais de direito que se interessam pelo design centrado no ser humano: são multipotenciais. Podem até ser tributaristas, processualistas ou atuar em outra área, mas estão sempre flertando com algo além: comunicação, música, artes plásticas, psicologia, cinema, tecnologia. Tudo importa.

Outro dia, em uma palestra para estudantes, resolvi falar da minha vida acadêmica. Fui uma estudante entediada e distraída. Tenho dúvidas se deveria ter cursado direito, jornalismo ou publicidade. Hoje isso não importa.

Sou pós-graduada em direito empresarial e direito contratual. Já estudei análise de tendências e coolhunting e larguei um mestrado em processo civil. Acabo de concluir uma pós-graduação em design e pretendo me aprofundar em comunicação. Faço cursos de storytelling e marketing e posso mergulhar em um curso de antropologia se me der na telha. Hoje! Nos anos 90 isso era impensável.


Fato é que passei meus anos de graduação entediada. Não queria fazer concurso público nem sonhava em abrir um escritório. Queria mesmo terminar meus cursos de idiomas, criar novas receitas dos patês que eu vendia, aprender sobre vinhos e planejar o próximo mochilão.


Não acredito em teoria sem prática. Fiz estágio em todas as áreas do direito, do penal ao ambiental tentando descobrir do que eu gostava. Passei em um concurso para auxiliar do Ministério Público e dois anos depois pedi exoneração.

Nunca me senti parte do mundo jurídico embora gostasse dele. Acabei me encontrando no direito empresarial, o ambiente corporativo sabe acolher uma advogada diletante. Funcionou por um tempo. A variedade de assuntos que você precisa lidar em uma empresa é impressionante. Trabalhei no jurídico de algumas. Quase uma década em uma trading japonesa — que vendia de granito a calcinha, como eles mesmos diziam. Monotonia? Jamais. Por um tempo. Especialista? Por um tempo.

Bem, se você continuou lendo até aqui talvez tenha se identificado. Ahá, você não está só — desculpe o clichê, mas sim, isso importa. Não sou coach, mentora nem tenho credencial para orientar a carreira de ninguém. Apenas acredito sinceramente que manter todos os interesses é um caminho mágico.

Se o teu coração bate mais forte por esse negócio de experiência do usuário no direito, tenho uma notícia: é provável que você seja especialista em pessoas.

E aí começa uma nova estrada. Uma viagem além do direito que passa pela antropologia, pela pesquisa, pela pedagogia, pela comunicação. Mergulhe nelas, na raiz. Se você realmente se interessa por legal design vá beber da fonte.

Comece a seguir gente que tem experiência nisso. Estude e pratique. O design centrado no usuário está aí há décadas, aprenda com experiências análogas e não procure soluções NO mundo do direito. Procure soluções PARA o mundo do direito.

Desconfie de métodos e sprints revolucionários. O sprint revolucionário é aquele que resolve um problema específico. E boa parte do processo está em descobrir qual é o problema. Ferramentas? Com alguma prática você começa a criar as suas. Todos podem fazer design responsável. Basta estudar e praticar.

E se você tiver algo para me contar, por favor, faça isso. Tenho certeza que você tem algumas teorias e rituais interessantes a respeito desse caminho que é o direito centrado nas pessoas. Aproveite a viagem.


Sou uma designer-advogada.

Trabalho com profissionais do direito e designers interessados em melhorar a experiência das pessoas com produtos e serviços jurídicos.

Presto consultoria para escritórios de advocacia, departamentos jurídicos de empresas, organizações, entidades e governos.

Juntos, criamos soluções que melhoram a comunicação, a oferta de serviços jurídicos e o acesso à justiça.

Meu objetivo?

Fazer com que cada um descubra e desenvolva seu próprio jeito de melhorar a experiência das pessoas com as informações e serviços jurídicos.

Publicado em

1/9/2019